segunda-feira, 10 de agosto de 2015
Abertura de 6 around 60
Surgem
eis que
delinquentes intelectuais
atravessando o país, línguas, culturas e outros paralelos,
meridianos pintados como calçadas floridas em um quadro inabitado e
repleto;
delinquentes infantis de
punhos sangrados para não serem um “buraco livre” abrindo
buracos pelas frestas e bibliotecas e paisagens e navios mercantes e
fugas de pedágios;
delinquentes das percepções,
delinquentes dos desejos frívolos de uma sociedade simétrica
levados aos portos de muitos que não enxergavam que estão sitiados
e transtornados musicais com uma nota bebop na unha dos teclados de
uma Underwood;
delinquentes religiosos e
delinquentes e religiosos(?) costurando as palavras nas solas dos
pés, escalando montanhas do Japão, dorsos dos garotos em Tanger e
de prostitutas e peiote em Guadalajara e
delinquentes culturais
esculpindo e desconstruindo e remodelando e relembrando as histórias
verídicas que de fato não aconteceram exatamente como a vida
narrada diz que a vida vivida viveu;
delinquentes econômicos
rejeitando uma sociedade que se projetava para o consumismo e
consumismo das coisas e consumismo dos sonhos e consumismo das artes
e consumismo da vida e consumismo do próprio consumo e de
consumidor;
delinquentes sexuais de falos
e ânus e falos e clitóris e vaginas e falos e ânus e camas e
sacerdócios e mictórios e janelas de ônibus;
delinquentes acadêmicos,
estúpidos diriam, com seus diplomas de literatura e sociologia e
antropologia e história e os assentos assinados por suas bundas na
bibliotecas da prisão de Nova York ou de uma outra universidade e
bibliotecas públicas e particulares;
libertos cardíacos nas
estradas!
delinquentes psiquiátricos
lambendo os sulcos de Artaud, reimplantando a orelha de Van Gogh, se
aquecendo com choques e pílulas e esquadrinho as pessoas em grades,
em grades – você não vê as grades que estão sobre seus ombros?
não reconhece os sintomas patológicos que enumeramos em você?
delinquentes da satisfação
insatisfeitos sugando vida, acariciando vida, recriando vida, arte em
vida, vida em arte, vida, vida, até aos setenta, oitenta, noventa
anos e mais;
delinquentes porque assim
diziam os rochedos de gravata e saias com anáguas e anáguas e luvas
brancas e as falácias de uniformes brancos com pranchetas, verdes
com sangue nas botas, escuros com decretos escusos nas pastas, e
uniformes sem uniformes porque disfarçados no seu projeto de
normalidade imutável …. imobilidade …
mas Charles Olson dizia: “o
que não muda / é a vontade de mudar”
Marcelo
Nietzsche
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